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quinta-feira, outubro 30, 2008

 

(As Sete Faces do Dr. Lao, Charles G. Finney)

"- Dr. Lao?
- Pois não?
- Onde fica a barraca de Pã?
- Não temos Pã nesse circo, minha senhora. Com certeza está se referindo ao sátiro que participou de nosso desfile esta manhã. Ele está naquela tenda ali. O ingresso custa dez centavos. Se deseja vê-lo, pague a mim aqui mesmo e pode entrar. Estamos com falta de bilheteiros no momento.

Agnes entregou duas moedas ao chinês e, assegurando-se que era uma moça calma e inteligente, entrou na barraca para ver o sátiro.

Ele estava se coçando numas videiras, com a barba rala e em tufos toda suja de borra de vinho. Os cascos tinham manchas de esterco e suas mãos eram ossudas, ásperas e nodosas; tinham uma cor pardacenta, eram grossas e de unhas longas. Entre os chifres havia um ponto pelado, cercado por pêlos encaracolados e cinzentos. Suas orelhas eram afiladas, e músculos magros e finos corriam por seus braços. O pêlo de bode ocultava os músculos da parna. Suas costelas apareciam sob a pele e os ombros erguiam-se até as orelhas.

O sátiro sorriu para Agnes, pegou a flauta e começou a tocar. Uma música fina e delicada de juncos dançou no ar denso da tenda escura. O sátiro levantou-se e dançou, ao som da música que ele próprio tocava, a cauda de bode sacudindo-se bruscamente, retesando-se, abanando. Seus pés dançavam uma jiga, com os cascos batendo um contra o outro e marcando o compasso, golpeando o chão sujo, tinindo, estalando, retinindo. O bodum tornou-se mais ativo.

Agnes ficou onde estava, assegurando a si própria ser uma moça calma e inteligente. O sátiro saltava ao redor dela, agitando a flauta, meneando a cabeça contorcendo os quadris, sacudindo os cotovelos. A flauta soava, cantava. A porta da barraca fechou-se. Em volta de Agnes galopava o idoso homem-cabra. Os pipilos da flauta guinchavam em seus ouvidos, como o bimbalhar de minúsculas sinetas, provocando nela um nervosismo que a sacudia e fazia seu sangue latejar. Com as veias intrumescidas pelo sangue em disparada, ela tremia como as ninfas gregas haviam tremido com o mesmo sátiro, 20 séculos mais jovem, havia dançado e tocado para elas. Agnes estremecia e olhava. E a flauta silvava, assoviava, sibilava.

O sátiro aproximou-se dela, dançando, roçando com as pontas dos cotovelos seus belos braços nus, tocando-lhe os vestido com as coxas hirsutas. Pequenos sacos de almíscar atrás dos seus chifres incharam e se abriram, exalando um denso odor oleoso - o prelúdio do cio. A criatura pisou no pé de Agnes com um casco; a dor fez com que lágrimas rolassem pelos olhos dela. O sátiro beliscou-lhe a coxa, enquanto continuava sua dança. Doeu, mas Agnes descobriu que a dor e lubricidade eram sensações afins. O cheiro que se desprendia era enlouquecedor. A barraca recendia a almíscar. Agnes sabia que estava suando, que gotas de suor escorriam de suas axilas e umideciam sua blusa. Sabia que as suas pernas estavam brilhando de suor. O sátiro continuava a bailar de pernas tensas ao redor dela, seu peito ossudo subindo e baixando com o sopro incessante. Saltou sobre pernas duras; atirou a flauta num canto distante; e então investiu contra Agnes, que se sentiu ceder, cair, desfalecer - para ela o mundo girava cada vez mais vagarosamente, a gravidade enfraquecia, a vida começava."

posted by Mariana Waechter  # 1:14 PM 1 comments

quarta-feira, outubro 22, 2008

 

Top 11

As onze melhores canções para se ouvir quando estiver irreversivelmente desiludido.

1- Burn of the Midnight Lamp – Jimi Hendrix
2-
Mojo Pin – Jeff Buckley
3- To Forgive – Smashing Pumpkins
4- Good Woman – Cat Power
5-
De Mais Ninguém – Marisa Monte
6-
Harvest Moon – Neil Young
7-
Wake Up Alone – Amy Winehouse
8-
Comin’ Back to Me – Jefferson Airplane
9-
Pictures of You – The Cure
10-
Goin’ to Acapulco – Bob Dylan
11- Heart in a Cage – The Strokes


posted by Mariana Waechter  # 2:27 AM 1 comments

sexta-feira, outubro 03, 2008

 

"Loneliness is such a drag"

As coisas que eu acredito ter em mente parecem bloqueadas por uma espécie de forma metafísica. Estive sentada longos minutos em frente a rua fumando um cigarro e olhando uma estrela solitária distante. A rua estava sem luz e eu notei os meus olhos se acostumando à escuridão e o meu leve temor de olhar para o lado e me descobrir acompanhada pelo bloqueador das minhas idéias. Olhei a folha em branco durante mais tempo que seria necessário nessa madrugada, muito mais tempo que eu passei olhando pra pouca luz que chegava aos meus olhos na rua, e nada parece fazer sentido. Eu tenho um objetivo, mas ele parece cada dia mais distante. Nada que eu escreva é bom o bastante e eu não consigo finalizar as idéias que eu inicio. Me sinto o ser mais egocêntrico da face da Terra, e, contraditoriamente, o mais sem amor-próprio. Preciso dormir, mas eu nem sei mais bem o porquê. São 3:39 e eu não sai do lugar, em aspecto nenhum, nos últimos quatro dias. Tenho praticamente dois meses pra saber tudo o que preciso e tentar mudar o rumo da minha vida no ano que vem. Se eu não conseguir isso, me vejo em um mar de possibilidades que, estranhamente, me limita, porque a responsabilidade de ajudar financeiramente dentro da minha casa (que, segundo minha mãe, não é minha, é dela, porque as contas não são pagas por mim) se torna imprescindível. Então minha opção com o conhecimento praticamente nulo que eu tenho se torna ser uma boa recepcionista, caixa ou atendente de telemarketing, e eu sei que essas coisas não vão me dar nenhum tipo de prazer, por mais que a minha mãe insista em dizer que qualquer trabalho é digno e válido. O problema, no caso, não é trabalhar em algo não tão prazeroso, e sim ficar presa a algo que eu não acredito por conta de pouco dinheiro e por preencher meu tempo de forma convencional. Tempo esse que possibilitaria aperfeiçoamento nas coisas que eu sei que posso fazer. Um emprego desses normalmente existe no centro da cidade, lugar para onde toda a periferia se desloca no início dos dias úteis, o que, pela péssima qualidade de transporte “público” nessa cidade, faz ser uma rotina extremamente exaustiva. Como aqueles desenhos infantis que mostram latas de sardinha como trólebus viajando pela cidade, abrindo como tal, enrolando o metal da tampa sobre si, e descompactando centenas de trabalhadores que vão sentar em seu cubículo e vão realizar para outrem coisas que eles nem sabem a real finalidade. Explicar para a minha mãe, por exemplo, que eu tenho uma finalidade, é um trabalho desgastante, incompreendido e malvisto. Em poucos minutos surgem os comentários como “essas idéias estranhas que você tem, Mariana” ou “por que você não se adapta como as outras pessoas fazem?” ou “Quero ver quando você estiver passando fome”. Começo a andar em círculos. E é frustrante, porque assistir a tantas pessoas fazendo as mesmas coisas e consumindo produtos e imagens de si mesma pra tentarem fingir que as coisas estão nos trilhos é desesperador. Sim, eu não sou elas, e, para grande satisfação delas, nenhuma delas sou eu, então estamos cada um em seu lugar, apenas com o diferencial de que uma parte do jogo tem mais conforto que a outra. Mas será que esse conforto é o bastante? Afinal, existe algum parâmetro que baste? Existe alguma parte sem ponto de vista para opinar? Eu não acho que seja neutra na história. É quase uma questão de certo e errado, e isso certamente não existe. "A realidade só exerce a sua pressão através das necessidades da vida cotidiana - comer e beber, morar, vestir, evitar engolir veneno, cair de janelas do último andar e coisas semelhantes. Entre a vida e a morte, e entre o prazer físico e a dor física, ainda há uma distinção, mas é só.” Isso é do 1984. E lendo isso eu consigo ver que a realidade na verdade é uma sala com paredes cheias de espinhos pontiagudos e imensos, que vão nos acuando no centro, até que você grite de desespero e tente se encaixar no buraco no chão, por mais que o buraco esteja repleto de ratos, afinal, você não sabe voar. O mal menor (ou maior?). Não sei. Acho que não dá pra saber. E, depois disso tudo, acho melhor ir dormir, mesmo.

posted by Mariana Waechter  # 4:26 AM 2 comments

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