"- Nossa, olha lá, Tramontina, o portão do prédio abriu, será que eles vão sair? Ah, não, é só um morador idoso idiota. Chegou um carro aqui, pessoal, olha só, com vidros escuros, muito suspeito, né? Mas nós não temos a confirmação de que são eles, Tramontina. Chegou uma informação aqui no meu ponto, Brasil, olha só: parece que o sobrinho da empregada do tio do primo de terceiro grau da mãe da colega de classe da Isabella está com diarréia. Isso mesmo, Tramontina, DIARRÉIA. Nossa, gente, essa história está tão mal contada, não é mesmo? Que indignação, Brasil."

Existem momentos na vida que você fica entre a cruz e a espada, a casa dos seus pais e o dinheiro que você precisa conseguir, o cursinho e os desenhos. Momentinhos de bosta. :)

"hoje eu encontrei a mari, fomos para a Pinacoteca, mas estava fechada. Tiramos fotos da pinacoteca fechada, dos guardas, e de nós, na pinacoteca fechada. O Jd. da Luz também estava fechado. Daí fomos para Sto. André, no Pq. Prefeito Celso Daniel, onde escalamos e brincamos com as crianças, tiramos mais fotos, fomos assediados por um menino promoter homossexual que nos convidou para uma rave católico-cristã (pasmem), e daí agente fez um pic-nic delicioso, conversamos sobre famílias, observamos famílias se divertindo, a grama deliciosa e gelada, o chá delicioso da mari, e aí tocamos gaita, e a mari começou a tocar gaita sozinha. Eu não ensinei nada, mas foi legal pois ela foi "aprendendo o que já sabia", e no fim já sabia tocar "Rolling Stone" do Bob Dylan. Daí agente conversou muito, tiramos muitas fotos, e brincamos como crianças, e fomos para o shopping tirar mais fotos ainda. Daí a mari percebeu que eu estava meio perdido lá dentro, e me interpelou. "Seilá, mari, as pessoas aqui não são de verdade... Não são felizes de verdade, olha só...". Daí agente tomou um milk-shake. E depois andarilhamos pela cidade. Tiramos mais fotos, ela não parava de tocar gaita. Fomos interpelados por jovens que nos disseram "tóma cuidado, que aqui eles costumas assaltar o pessoal!" Agradecemos e continuamos fotografando. Aí agente foi pro paço municipal, onde fica a prefeitura, a câmara e o fórum. Lá tinha um vento delicioso, aquele tempo nublado. Daí ficamos 15 minutos numa passarela acenando para todos os carros que passavam embaixo de nós. Foi o momento mais sublime da minha vida. Foi simplesmente maravilhoso, agente não parava de dar risada, não parava de dar "tchausinho" e as pessoas que passavam lá embaixo, se não apontavam o dedo para nós, quase sempre riam, acenavam, davam tchau e ficavam felizes conosco também! Alguns jovens fizeram gestos obcenos para nós. Mas nós continuamos acenando e dando animados tchausinhos. Todos que passavam riam, motoristas de ônibus, motoqueiros, caminhões, carros populares e de luxo. É tão fácil tornar a vida das pessoas mais engraçada! E a nossa, então? Daí nos fomos para o meio de uma praça imensa que fica entre a câmara de vereadores, a prefeitura, o fórum, e a biblioteca, com aquele silêncio, com aquele cinza e aquele vento, e tentamos dançar. Agente ficou ali, tentando dançar juntos, abraçados, girando... Mas eu não sei dançar direito. Embora a sensação seja maravilhosa! Seilá, foi muito lindo. Daí brincamos de sair correndo atrás de pombos, gritando "RROOOAAARRR!!!", e fazendo todos eles voarem assustados! Toramos mais fotos, tocamos gaita, e conversamos mais. "Eu te acho estranho, batella." "Eu também". Voltamos para a passarela, e passamos mais 20 minutos acenando para os veículos automotores. =] Depois sentamos "na escadaria" do colégio Américo Brasiliense" (mas são só 3 degraus, medina!), e passamos frio, tocando gaita, e conversando. Voltamos para o shopping para ir ao banheiro. Foi nessa hora que ela aprendeu a tocar "how does't fells?/ HOW DOES'T FELLS?/ to be on your own? With no direction home? Like a complete unknown? Like a rollin' stone?!". E eu fiquei feliz com essa música. Daí, ela teve que ir embora. E quis levar minha gaita. Minha querida gaita, companheira de 4 anos. Uma gaita tão boa... Daí eu custei, mas, achei melhor que ela ficasse com ela. Pois, ela merece. Mas ela merece mais do que uma gaita usada. Merece mais do que mil gaitas novas... Nos abraçamos, ela me deu um beijo na bochecha esquerda, que eu perdi o rumo, e o equilíbrio. Daí ela foi embora. =]

- acho que... acho que agente não tem outra alternativa senão ser feliz."


Estou tão pedra rolando... e eu lembro tão bem desse dia. :)