"- Dr. Lao?
- Pois não?
- Onde fica a barraca de Pã?
- Não temos Pã nesse circo, minha senhora. Com certeza está se referindo ao sátiro que participou de nosso desfile esta manhã. Ele está naquela tenda ali. O ingresso custa dez centavos. Se deseja vê-lo, pague a mim aqui mesmo e pode entrar. Estamos com falta de bilheteiros no momento.
Agnes entregou duas moedas ao chinês e, assegurando-se que era uma moça calma e inteligente, entrou na barraca para ver o sátiro.
Ele estava se coçando numas videiras, com a barba rala e em tufos toda suja de borra de vinho. Os cascos tinham manchas de esterco e suas mãos eram ossudas, ásperas e nodosas; tinham uma cor pardacenta, eram grossas e de unhas longas. Entre os chifres havia um ponto pelado, cercado por pêlos encaracolados e cinzentos. Suas orelhas eram afiladas, e músculos magros e finos corriam por seus braços. O pêlo de bode ocultava os músculos da parna. Suas costelas apareciam sob a pele e os ombros erguiam-se até as orelhas.
O sátiro sorriu para Agnes, pegou a flauta e começou a tocar. Uma música fina e delicada de juncos dançou no ar denso da tenda escura. O sátiro levantou-se e dançou, ao som da música que ele próprio tocava, a cauda de bode sacudindo-se bruscamente, retesando-se, abanando. Seus pés dançavam uma jiga, com os cascos batendo um contra o outro e marcando o compasso, golpeando o chão sujo, tinindo, estalando, retinindo. O bodum tornou-se mais ativo.
Agnes ficou onde estava, assegurando a si própria ser uma moça calma e inteligente. O sátiro saltava ao redor dela, agitando a flauta, meneando a cabeça contorcendo os quadris, sacudindo os cotovelos. A flauta soava, cantava. A porta da barraca fechou-se. Em volta de Agnes galopava o idoso homem-cabra. Os pipilos da flauta guinchavam em seus ouvidos, como o bimbalhar de minúsculas sinetas, provocando nela um nervosismo que a sacudia e fazia seu sangue latejar. Com as veias intrumescidas pelo sangue em disparada, ela tremia como as ninfas gregas haviam tremido com o mesmo sátiro, 20 séculos mais jovem, havia dançado e tocado para elas. Agnes estremecia e olhava. E a flauta silvava, assoviava, sibilava.
O sátiro aproximou-se dela, dançando, roçando com as pontas dos cotovelos seus belos braços nus, tocando-lhe os vestido com as coxas hirsutas. Pequenos sacos de almíscar atrás dos seus chifres incharam e se abriram, exalando um denso odor oleoso - o prelúdio do cio. A criatura pisou no pé de Agnes com um casco; a dor fez com que lágrimas rolassem pelos olhos dela. O sátiro beliscou-lhe a coxa, enquanto continuava sua dança. Doeu, mas Agnes descobriu que a dor e lubricidade eram sensações afins. O cheiro que se desprendia era enlouquecedor. A barraca recendia a almíscar. Agnes sabia que estava suando, que gotas de suor escorriam de suas axilas e umideciam sua blusa. Sabia que as suas pernas estavam brilhando de suor. O sátiro continuava a bailar de pernas tensas ao redor dela, seu peito ossudo subindo e baixando com o sopro incessante. Saltou sobre pernas duras; atirou a flauta num canto distante; e então investiu contra Agnes, que se sentiu ceder, cair, desfalecer - para ela o mundo girava cada vez mais vagarosamente, a gravidade enfraquecia, a vida começava."