Imaginem um sábado há uns oito anos atrás (considerando que os leitores tenham no máximo 20 anos, senão é só mudar um pouco as circunstâncias encaixando coisas equivalentes). Você pegava seus dez reais da mamãe, do papai ou das poucas economias e ia pra um shopping qualquer com os amigos e primos, com a mochila nas costas se sentindo muito independente por ter pego ônibus sozinho, carregando a carteirinha de estudante e o RG. Você passava no Cinemark pra ver, sei lá, "X-Men" ou "Gladiador" dublado e fazia uma vaquinha barata com o pessoalzinho (no máximo quatro coleguinhas) pra comprar a pipoca grande (com refil). Depois de terminado o filme e depois de todo mundo ter imitado alguma cena de luta dentro de alguma loja de cama-mesa-e-banho, ainda dava pra tomar uma famosa casquinha de corredor de shopping.

Isso com seus R$10,00 (e poucos centavos jogados no bolso de dentro da mochila). Certo? Certo.

Bem, ontem foi sábado. Um sábado de tempo ameno e contemplativo, de acordar tarde e ficar de pijama até lembrar de repente que "A Lenda de Beowulf" está nos cinemas, e não só, que no cinema 3D do Eldorado a sessão pode ficar mais divertida exatamente por conta da impressão de pedaços do filme vindo em direção a sua cara. Pois bem, decidido: cinema. Primeiramente, agora as pessoas pagam R$2,30 em uma única passagem de ônibus. São R$4,60 para ida e volta, considerando que você demore mais de duas horas e não queira usar o metrô, porque daí é mais caro, e eu não sei exatamente de quanto é o "desconto" bacana que eles fazem para nós, consumidores de transporte público. Portanto, com pelo menos R$5,00 você tem que sair de casa. Lá se foi metade do nosso passeio, se quiséssemos gastar como "antigamente".

Chegando lá, compremos os ingressos rápido, afinal não sabemos se o filme está bombando, mas reparamos que o shopping está (argh!). "Duas meias pro 'Beowulf', por favor", "Claro, são R$20,00". Eu não sei qual foi a cara que eu fiz quando ela me disse isso, mas ela respondeu com uma igualmente estranha, mas mais puxada pra medo. Pronto, em uma tacada só gastamos a nossa dura economia de duas semanas sem comprar lanche na escola, guardada no bolso pra ir ao cinema há oito anos atrás. Estamos pior e descendo...

Com tristeza no coração, percebemos que são oito horas e estamos com fome. Anos atrás isso não aconteceria: iríamos ao cinema logo depois do almoço pensando no melhor horário pra voltar pra casa e, automaticamente, gastaríamos menos. Ok, isso nem está na lista de indigninação por conta dos velhos tempos, mas está em outra lista qualquer, porque o fato de gastar quase R$30,00 em dois lanches (pequenos) com (pouca) batata frita mais refrigerante, é um tanto absurdo demais.

Ok, vimos o filme. Apesar de oito anos terem se passado, imitamos as cenas de luta, comentamos a cena X que dava um susto considerável e lamentamos termos ficado sem o óculos 3D com design Bob Dylan.

Nos perdemos pra achar a saída (logicamente), mas achamos: vento friozinho, barulho do trânsito e um posto vermelho e amarelo convidativo de casquinhas do McDonald's ao lado direito. "Cada casquinha é R$1,50, mas fazemos a maravilhosa promoção de R$2,00 duas casquinhas!". Foi o maior soco no estômago da noite. Que saudade das casquinhas a R$0,80.