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quarta-feira, julho 18, 2007

 
É longo sim, mas não menos genial. Só queria trazer isso a público, por mais que esse blog quase não consiga ser chamado de público (só é porque qualquer um pode visitá-lo, o que não quer dizer que a maioria das pessoas queira). LEIAM.

Contra-Corrente

Um avião caiu na mídia.

A frase merece explicações, porque há nela um truque de prestidigitação.

Um avião é um veículo de transporte em massa. Portanto, é um veículo que carrega grandes quantidades de seres humanos. Há, é claro, um choque evidente quando várias vidas são terminadas bruscamente de uma vez só. O fato de um avião cair merece mais destaque na mídia do que, digamos, um acidente de carro.

Segundo dados oficiais, entre janeiro e março deste ano, o mesmo ano em que um avião caiu na mídia, aconteceram 1400 mortes em acidentes de carro nas estradas do país. Isso dá um pouco mais de 460 mortes por mês – que divididas entre os 26 estados da federação (Brasília que se contente em ser deixada de fora da conta), dá quase 18 mortes por mês em cada estado.
A conta é inútil do ponto de vista prático, pois finge que não existe concentração populacional e de renda (que permite – em grande parte – o trânsito das pessoas para seus passeios em compromissos) em alguns estados. Mas tem muita serventia do ponto de vista do interesse de cobertura desigual que a mídia teve sobre os dois eventos. Se 460 pessoas morressem de uma vez em um só lugar a cada mês, haveria repórteres por todo lado e cobranças exaustivas às autoridades (nos primeiros meses, pelo menos). Mas acidentes de trânsito causam mortes difusas. Os dados se diluem na vastidão territorial em que eles acontecem, de forma que são grandes números, mas pequenas tragédias. São apenas mais mortes, faz parte...

Ironicamente, o dado estatístico de aproximadamente 18 mortes quase coincide com o número oficial de 19 mortes causadas pelo esforço combinado da polícia do Rio de Janeiro e da Força de segurança nacional, na sua intervenção contra o “morro do Alemão” em 27 de junho. Mais de 40 pessoas já morreram desde que a operação policial começou no local, em 2 de maio. É mais concentrado, mas ainda é pouco. Umas poucas manchetes ao longo da semana, e dá-lhe Pan. Afinal, o material humano que se perde em mortes ocorridas numa favela é presumivelmente menos interessante ou mesmo merecedor de seu fim.

Um avião caiu na mídia. O truque ainda não está claro.

Um avião não é apenas um veículo de transporte em massa, e se comparado ao ônibus e até mesmo ao metrô, não o é de jeito algum, porque é um veículo caro de transporte em massa. Portanto, um avião transporta não apenas grandes quantidades de gente, como também transporta gente com razoável poder aquisitivo. Quando um ônibus cai de uma ribanceira ou um trem descarrila, o que se perde ali, em grande parte, não são pessoas com quem a mídia se identifica. Não são gente como a gente, aos olhos da própria mídia.

Alguém pode amassar o papel agora e dizer que a mídia não tem olhos porque não é gente, é apenas um setor da sociedade, um campo de trabalho. Verdade, mas também é verdade que a mídia não pode ser tratada como uma entidade, distante e imparcial, porque ela é uma entidade feita de gente. E o tipo de gente que decide o que vale a pena e o que não vale pra circular na mídia talvez seja o ponto central do truque na frase. Afinal, se um metalúrgico, um pedreiro, uma empregada doméstica, ou mesmo um conselho formado exclusivamente por desempregados há mais de seis meses, fosse decidir a pauta de um telejornal, será mesmo que seria dada tanta atenção assim para o avião? Será que em cada canal e cada sítio de notícias haveria notícias de última hora, cobertura exclusiva e toda aquela parafernália midiática, espremendo o evento para tirar do público até a última careta de horror e as lágrimas indistintas – que se chora com certo alívio – para um estranho?

Um avião caiu na mídia, porque a mídia é feita por gente que toma avião. Mesmo pra quem está na condição de viajar num avião e nunca o fez, as viagens de avião fazem parte do imaginário dessas pessoas. É parte de seus direitos inalienáveis de consumidor. Quando um direito é roubado de alguém, por vilania ou por negligência, é dever cívico do cidadão lesado fazer muito barulho para mostrar o que está acontecendo. Para que, por solidariedade ou por precaução, a reivindicação ganhe força através da quantidade, e faça valer a vontade popular.

Mas a mídia é uma espécie de funil engenhoso. Através do filtro seletivo, expondo mais ou menos determinados assuntos, direciona-se a atenção de todo o público – o que inclui quem não anda de avião – para a gravidade de certas negligências aos direitos específicos de certas camadas da população – aquelas que, normalmente, andam de avião.

Alguns dirão que o exagero na cobertura do avião é eleitoreiro. Afinal, nada como algumas centenas de mortes inocentes nas costas para derrubar um candidato nas pesquisas. Se o senso comum estiver certo e realmente o acidente foi causado por más condições, então há um responsável em terra para isso, alguém cujo ofício seria não permitir que existissem condições inadequadas para vôos. E esse alguém acaba de dar a oportunidade perfeita para uma acusação contra a coletividade dos órgãos de governo. Ascendeu a chama da esperança em quem quer trocar de cavalinho no carrossel da política. Outras notícias merecem menos destaque porque não oferecem as mesmas oportunidades.

Mas essa é a resposta de quem acredita que o mundo é uma mesa de pôquer, e que há uns poucos jogadores na mesa, blefando e aumentando as apostas entre si, à revelia da vontade das fichas e das cartas.

O resultado dessa tragédia terá conseqüências óbvias para o nosso destino político. E sim, foi uma tragédia. Vidas foram abreviadas e alguém é humanamente culpado, na imperícia ou na negligência, por não ter impedido que chegasse a esse ponto.

Mas esse avião caiu na mídia. Seus escombros estão queimando nas televisões e canais banda-larga da rede como se ele tivesse caído há quinze minutos. Especialistas dão suas opiniões, o povo é posto na frente da câmera com o microfone na mão pra dar seu recado, políticos se acusam, se cobram e se desculpam.Tudo muito adequado. Mas há uma possibilidade intrigante aí, que é a quebra do monopólio da assim chamada “classe média” sobre a produção e a filtragem do que vai circular na mídia. Se um metalúrgico, um pedreiro, uma empregada doméstica, ou mesmo um conselho formado exclusivamente por desempregados há mais de seis meses, estivesse decidindo a pauta dos jornais e dos blogs, do que os especialistas estariam falando agora? Quais os recados que seriam dados, espontaneamente na frente da câmera?

Do que será que os políticos estariam se acusando? Como eles se defenderiam?

Um avião caiu na mídia. A mídia tem “airbags” o bastante pra não ligar pra acidentes de trânsito. E a mídia tem porteiros, prédios monitorados e ótimas localizações, portanto é à prova de favelas. Mas a mídia não é à prova de aviões.

autor: CZO.
18/07/2007

posted by Mariana Waechter  # 10:25 PM
Comments:
muito bem.

=]
 
ó.
to sem saco pra escrever corretamente, mas li até uma parte... parei de ler na integra quando achei algumas coisas furadas e que tinham outras explicações fora as dadas, e fui pulando.

tem coisa certa, tem coisa exagerada.....
 
Típíco pensamento simplista, esquerdizado, idealista bobinho; acha que "a mídia [divulga tal coisa pois] é feita por gente que toma avião", e que a mídia mudaria seus objetos de discussão se sua opinião não se pautasse no imaginário "da classe média", argumento (polilogista!) já tomado como premissa.

Ora, como se a empregada doméstica não sentisse prazer em assistir o desastre na tv. Como se a classe média fosse a única a dar audiência às notícias. Como se os acidentes de trânsito não fossem comuns demais - indignos de qualquer interesse.

Temos a mídia da classe média para a classe média. Temos a cobertura do acidente que matou membros da classe média, e o governo - que só será cobrado pelas questões postas pela classe média e sua mídia. Os pobres, coitados, ficam fora do escopo. Ah, mas se a mídia fosse pública... Se o povo detesse os meios de comunicação... Todos os problemas desapareceriam: "O resultado dessa tragédia terá conseqüências óbvias para o nosso destino político"; ah, se as conseqüências fossem ditadas pelo povo... Que destino brilhante teríamos, não é?

Sua nítida imparcialidade se nutre no idealismo bobo do autor.
 
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