IO dia estava morno e uma chuva muito leve começou a cair, mas ela nem notou, estava no telhado de olhos fechados, perdida em pensamentos e sentindo o vento fraco, reparando em particular o jeito que não se preocupava com muita coisa caso seus ombros estivessem descansando em cima das telhas de barro vermelho. Sentiu uma leve pressão na barriga e viu a gata malhada de amarelo e preto da vizinha subir, sem se preocupar em pedir, e sentar. Fechou os olhos de novo e respirou fundo o cheiro de chuva... daqui a pouco a gata fugiria das gotas mais pesadas e a garota ficaria ali sozinha, sem se preocupar com os trovões que viriam. Ou seria essa a cena que ela havia imaginado.
- Uma tempestade está chegando, Léia. - disse a gata.
- Eu sei, eu estou vendo. - ela respondeu, de olhos ainda fechados.
- Pode saber, mas ainda não está vendo. Você precisa se aprontar.
- Gatos não falam normalmente, certo?
- Certo.
- Hum... hora de fugir das gotas pesadas, bichana.
Ela continuou deitada, começando a sentir as gotas mais geladas, e a gata malhada em dois ou três pulos sumiu da vista de quem quer que estivesse olhando.
Não havia ninguém olhando.